domingo, 29 de agosto de 2010

MAÉVEM, A BARDA VOADORA.

Era mais uma noite agradável na cidade de Javalix. O calor do verão refrescado pela leve brisa do norte criava um ótimo clima para velhos amigos se reunirem na taverna de Clarin e tomarem umas cervejas.


O anão estava muito ocupado, correndo para lá e para cá com a bandeja sempre cheia de pesadas canecas de cerveja da melhor qualidade., Era assim que tinha que ser a cerveja do seu estabelecimento: a verdadeira bebida dos deuses. Isso agradava não só a si, que era um invejado bebedor, mas a todos os seus clientes que, além disso, eram seus amigos de longa data.


Quase todas as mesas estavam ocupadas naquela noite por pessoas que vinham de toda a região. No pequeno palco havia uma cadeira muito bela de madeira vermelha adornada de ouro e prata com uma grande e fofa almofada verde musgo sobre o assento. Na sua frente havia uma pequena mesa, também de madeira vermelha, coberta por uma toalha verde com um nome bem conhecido bordado em vermelho e dourado: MORPHEUS.


Logo em frente ao palco havia uma mesa grande com muita comida e bebida onde estavam sentados os convidados especiais do halfling. Na ponta estavam os dois grandalhões, Groo e Gronso, do lado esquerdo deles estavam Erthay, o necromante, e Maévem, a barda. Do outro lado estavam Mong e Kátuz, os góblins mais temidos de todos os vales, e Jeafinlas, ou como era conhecido, Jeaf, o elfo. Todos esperavam pela chegada de Morpheus que, depois que todos resolveram parar de se aventurar pelo mundo atrás de emoção e dinheiro, passou a escrever um livro com suas memórias sobre as diversas aventuras que teve com seus grandes amigos, e nessa noite ia, pela primeira vez, ler um trecho delas para todos.


Não demorou muito e o halfling entrou na taverna todo bem vestido carregando um grande livro de capa marrom e bordas de prata. Ele vestia um belo colete de cetim vermelho por cima de uma camisa verde de seda. Suas calças e botas eram marrons e sua longa capa vermelha e dourada combinava com seu belo chapéu com longas plumas amarelas.


Ao subir ao palco, foi aplaudido por todos que estavam na taverna e, depois de agradecer o carinho dos amigos e admiradores, abriu o livro, limpou a garganta e iniciou a leitura:


- Nessas minhas andanças pelos reinos, tive a oportunidade de ser proprietário, em sociedade, de um belo navio: o famoso CANIBAL NECROMANTE. Era um navio que, assim como eu, se tornou uma lenda devido as seu histórico de batalhas vencidas e de ter sido um cassino vagabundo. – O público riu com a comparação do halflin com o navio.


- Porém – continuou – o causo que vou lhes contar é do dia em que ele "quase" – e com os dedos fez sinal de aspas para enfatizar bem a palavra: quase - veio a pique. Pros ignorantes que não sabem o que é vir a pique, é afundar. – completou olhando para todos na taverna para ver a reação de seu público. Erthay pois a mão no rosto e riu do jeito de seu amigo – Esse halfling não muda! – pensava ele.


- Tudo graças a uma barda inútil, burra e péssima de cama, ou melhor, de estábulos. – acrescentou ele erguendo a voz e encarando Maévem que ficou muito vermelha de fúria e tentou levantar para acertar as contas com o halfling, mas foi detida por Groo – Deixa ele, Maévezinha! Ele está apenas brincando. – ela ainda muito furiosa cruzou os braços e permaneceu sentada, pois não havia como escapar das mãos daquele guerreiro tão forte.


- Estávamos ancorados em Suzail, resolvendo alguns problemas, quando Maéven encontrou um velho baú em suas andanças pela cidade. Ela resolve, então, levar o baú até a minha digníssima presença, numa taverna no porto, já que o velho baú estava trancado e a toupeira não tinha conseguido abrir. – deu uma pausa para avaliar a reação de todos e viu que suas palavras divertiam as pessoas, menos à barda que o encarava furiosa – O que será que ela tem? – pensou ele rapidamente, mas logo voltou a se concentrar na leitura. - Maévem me perguntou se eu poderia abrir o baú para ela, mas não na taverna, e sim no navio. Em troca desse grande favor, dividiria comigo o conteúdo do baú. Eu levado pela ganância e pelos litros de cerveja que Clarin tinha me pagado, não pensei muito nas consequências e aceitei. – Nessa hora o anão deu uma forte risada e ergueu sua grande caneca cheia de cerveja brindando as palavras de seu amigo e tomou tudo num gole só.


- Levamos o baú até seus aposentos, e díga-se de passagem: um verdadeiro chiqueiro dentro do navio. – mais uma vez Maévem tentou se levantar para protestar, mas foi o necromante que a conteve desta vez – Deixe-o, Maévem! Até parece que o não conhece! – A fechadura era muito difícil de ser aberta! Mexe pra lá, vira pra cá até que eu escutei um clique. – e parou de falar repentinamente com os olhos arregalados. Toda a taverna parecia ter parado. Um homem que levava a caneca de cerveja à boca chegou a derramá-la sem nem perceber, esperando pela continuação da história. O halflin abaixou a cabeça e fechou os olhos e com uma voz muito comovente, continuou:


- Nesse momento agradeço a Mask pela minha vida. – o silêncio foi quebrado por varias vozes ao mesmo tempo dizendo: OH! – Sim, pois ao abrir o baú, houve uma grande explosão. Senti cheiro de pêlo de Halfling queimando e de repente estava eu deitado sobre uma barraquinha de peixes no cais do porto a centenas de metros do navio. Logo veio um homem, que suponho ser o dono da peixaria, com uma cara de espanto. Ele gesticulava e fala comigo por nada, já que eu só ouvia um zumbido agudo.


Naquele momento todos comentavam o vigor do halfling de ter escapado de uma explosão de tamanha magnitude e estar ali hoje contando esta história para todos na taverna. Ele esperou um tempinho para que todos se acalmassem e limpando a garganta, continuou a leitura:


- Mas o que me doeu mais foi ver meu lindo navio, todo fodido pegando fogo e com um enorme buraco no casco. – todos se emocionaram com o halfling que tirara o chapéu em respeito ao seu amado navio e olhava para o nada como se pudesse ver a imagem dele em chamas no porto de Suzail - E no alto, o que parecia ser uma estrela cadente cruzando o céu da cidade, era na verdade a barda pegando fogo caindo bem longe.


A barda não aguentou mais os insultos de Morpheus e com sua destreza agarrou a caneca de madeira do seu amigo grandalhão e arremessou contra o halfling acertando-o em cheio na cabeça. Todos na mesa caíram na gargalhada, inclusive Morpheus que saltou do palco e se juntou a eles para mais uma noite de diversão na taverna de Clarin.




Autor: Rafael Clemente

Adaptação: Rockão Gobi

Trecho retirado do livro "Memórias de Morpheus".



Obrigado pela contribuição, Rafael. São histórias inesquecíveis estas dos saudosos jogos de domingo com seu irmão mestrando para nós. Continue escrevendo as memórias do Morpheus. Essas histórias são fascinantes e, como disse o Balão (Fabiano), nos dão vontade de voltar a jogá-las!

Rockão Gobi

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