- Louco? Então acha que sou louco? - Perguntava calmamente o homem ruivo de cabelos desarrumados e barba a fazer sentado no sofá de frente para o homem de cabelos grisalhos. - Mal me conhece e me julgas assim?
- Vi e senti coisas que uma pessoa “sã” jamais poderia! – Continuou falando enquanto levantou do sofá e começou a caminhar de um lado a outro – Quando fazemos a passagem, a maioria escolhe adormecer até que esteja pronto para renascer. Eu não! Eu era curioso demais para isso! Eu fiquei acordado para sentir.
Por quase um minuto, Edgar ficou calado com o olhar atônito como se estivesse olhando para si próprio sendo abraçado.
- Não sabes o que é implorar para Deus para que ele o perdoe e acabe logo com o seu sofrimento e, então, descobrir que Ele não se importa com você! Você apela então para o diabo. Chama por Lucifer, Nick, Belzebu, Bode Preto, Diacho, Anhangá, Satanás, Capeta, Tranca-rua, Tinhoso, Maligno... enfim, todos os nomes que conhece para o coisa-ruim, mas ele também o ignora. Você fica imaginando o porquê de ele não querer a sua alma, mas só depois percebes que você não tem mais alma. Aquela dor insuportável que está sentindo em cada célula do seu corpo como se ela fosse rasgada com uma navalha cega é a dor do desprendimento da sua alma. Você está se transformando em um corpo vivo e sem espírito. Isso significa que você não pertence mais ao paraíso e ao inferno! Agora você pertence apenas à noite.
O descendente de holandês caminha em direção à porta e enquanto a abre olha para trás. Olha pela última vez para o dono daquela pensão em que passou o dia na pequena cidade de Lavras em Minas Gerais.
- Não me lembrava mais dessa foto. Foi bom recordar do meu rosto mortal. Adeus seu Zé. – O vampiro então saiu para o breu da noite na BR 265. Lá fora seu Maverick preto 75 o esperava para pegar estrada. Na sala de espera da pensão ficou o telefone com o número 190 discado sem completar a ligação, ao lado da foto de Edgar Berenschot como procurado pelo assassinato de 9 mulheres na década de 80 em Goiás. Então o corpo sem vida do Sr. José pende para frente e despenca por sobre a mesa de centro onde estão o telefone e a foto.
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